Não por falta de acesso, mas pelo MURO que criaram entorno de sua obra, eu somente agora aos 26 anos de idade descobri Elis Regina. 34 anos após sua morte e hoje posso dizer que sei quem ela de fato foi e o tamanho de seus feitos.
Cresci ouvindo os mais velhos sempre dizerem que “Elis foi a maior”, mas nunca havia entendido, tudo que eu sabia era: Na época em que viveu, ela fez grandes coisas e que NINGUÉM jamais a superaria. Mas pra mim a questão NUNCA foi essa, é mais que óbvio pra mim que: ninguém é igual ninguém, ninguém substitui ninguém. Meus questionamentos eram: por que ela era tão “grande”? Não podia ser “só a voz e o timbre” (que são incríveis) , o que ela tinha de “algo mais”?
E só após passear pelo contesto histórico em que Elis viveu, e pelas entrelinhas de sua vida,muito bem narradas no livro ” Elis Regina -Nada Será Como Antes” eu afirmo: Definitivamente Nada Será Como Antes quando eu pensar em Elis Regina.
Pois vou dizer então como era a Elis que descobri.
Uma mulher intensa, com um desejo enorme de não ser comum, ela queria mais, a palavra impossível não existia, Elis faria tudo que achasse necessário para ser a mulher que queria ser, para fazer história, independente se pagaria altos preços por isso, já que pra ela não fazer o que acreditava era morrer em vida.
Meu Deus como Elis era Rock n Roll! Ela não buscava a “liberdade”, ela vivia, ela era a própria materialização da liberdade. Elis foi a maior não só nos palcos, ela teve coragem de viver o que escolhia viver, em suas inúmeras paixões pagou também preços altíssimos, mas preferia arrepender-se do que fazia e não por não ter feito.
Seu jeito impulsivo e brigão reflete tudo isso, ela falava o que queria e se caso se arrependesse depois, com seu jeito único acenava a bandeira da paz.
A Elis Regina “mãe” era ainda mais incrível, já que em meio a ditadura ela abriu mão do que acreditava , de dizer o que queria , em prol da segurança dos filhos, mesmo sendo vista pelos colegas de profissão como uma traidora.
Agora o que eu queria do Brasil, da emissoras de TV, do Rádio, do Jornal, era que fizessem mais homenagens à Elis, porém mais completas, mais profundas, enaltecendo por exemplo a capacidade dela em SER um instrumento, ela não era apenas cantora, era um músico, ela gravava as canções sem ter que repetir “takes”, tinha ouvido absoluto, voz única e percepção musical de instrumentista. Nas escolas de música, quando se fala em canto, Elis Regina é objeto de estudo, e eu não sabia disso.
Ao mesmo tempo que querem imortalizar Elis ( que alias já é imortal) , “eles” não permitem que cantoras desconhecidas cantem Elis. Mas espera aí ! Elis Regina só será de fato imortal se sua obra continuar sendo cantada, para que de fato chegue nas pessoas.
Não existe um movimento que incentive que as músicas dela sejam cantadas, pelo contrário, se uma cantora for em algum programa de TV , seja programa de calouros, ou profissionais, qualquer candidata que se disponha cantar Elis já previamente será massacrada pelos jurados que dirão: ” – Ela vai cantar Elis? Quem ela pensa que é?!
Claro! Óbvio que fazer “melhor” que Elis não teria jeito, mesmo porque ela é a original. É um risco em uma competição cantar Elis? É ! Mas que a candidata escolha se quer arriscar ou não, e não o que acontece: Gerações e Gerações pós-Elis convivem com um medo quase fantasmagórico , algo que paira no ar, que ninguém sabe de onde vem e até onde vai, medo que diz :” – Não cante jamais Elis!”
Quem tem medo de Elis Regina? Da sua capacidade vocal e interpretativa todos tinham até medo, pois era quase inacreditável seus feitos. Mas não devemos temê-la , devemos amá-la, cultuá-la , homenageá-la , fazer dela eterna.
Mas aí, lanço uma observação: Elis vivia um dilema mostrado no livro, ela queria ser mais popular, tentou de tudo, várias estratégias e assim como no livro, na vida real, 34 anos após sua morte, onde como uma verdeira artista ela devia ser ainda mais e mais popular …..”eles” (não sei quem são…onde estão e nem se ainda vivem) não deixam ela ser de fato do POVO. Querem que Elis seja eterna mas não permitem que existam novas interpretações das suas canções.
Elis é enorme, grandiosa, uma estrela que já habita o lugar mais alto, o céu, então, eu, a partir de Hoje quero conhecer todo seu acervo , quero celebrar Elis Regina.
No que depender de mim ela jamais morrerá, mas sim , se eternizará.